quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Três mulheres no Beiral de Susana Piedade

Leitura agradável, mesmo muito agradável para uma primeira desta escritora, (se os livros dela são todos assim fiquei fã) alegre e triste em certas alturas, outras resplandecente de vida como as nossas familias. Apesar da nostalgia e tristeza inerente à leitura desta belissima história que me trouxe muitas recordações dos verões passados com os avôs maternos no ribatejo. Temas são variados e alguns controversos como a solidão dos mais velhos e as familias afastadas, a avareza e o setor imobiliário, a avareza e cobiça no geral, a solidão e o isolamento, o sofrimento e a morte mas nem tudo é mau temos bonitos exemplos de caridade e entreajuda, do amor e carinho, de dedicação e amizade.
A personagem principal é a senhora Piedade, de oitentas e tal anos, que vive sozinha numa casa tão velha como ela numa das melhores zonas da Baixa do Porto. Acompanhamos várias decadas desde o nascimentos dos filhos até ao seu repouso. Cercada por velhos amigos seus, e respetivos familiares, vê os investidores persegui-los para venderem e abandonarem as suas casas, para dar lugar a condominios fechados, ou apartamentos de luxo, que os comuns mortais locais não podem comprar. Vê igualmente a passagem do tempo cercar os seus amigos e terem de mudar da sua casa ou para um lar ou para o cemitério. Acompanha a familia sempre que eles a visitam, mesmo quando as intenções não são as melhores, e tenta, tenta sempre ver o melhor em cada filho/a ou neto/a ou bisneta.
Uma das outras personagens principais é a própria Baixa do Porto pelo seu caracter e pelas suas pessoas tão bem aqui retratadas que poderia ser qualquer capital de distrito no eterno confronto entre o antigo e o moderno, que nem sempre é uma transição pacifica.

Sinopse:
Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando - ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo - os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.
Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.
Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.
Boas leituras

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