"Às vezes sentia umas garras na garganta e mal conseguia respira, ou sentia-me esmagada pelo peso de um saco de areia no peito e enterrada numa sepultura, mas depressa me recordava de que devia dirigir a respiração para o sítio da dor, com calma, como se diz que se deve fazer durante um parto, e logo a angústia diminuía. Nessa altura visualizava uma escada que me permitia sair da sepultura e subir até à luz do dia, a céu aberto. O medo é inevitável, tenho de o aceitar, mas não posso permitir que me paralise. Uma vez disse - ou escrevi em qualquer sítio - que depois da tua morte já não tenho medo de nada, mas isso não é verdade, Paula. Receio perder ou ver sofrer as pessoas que amo, receio a deterioração da velhice e a crescente pobreza, violência e corrupção no mundo."
in Allende, Isabel (2016). A soma dos dias. Porto Editora chancela de bolso (11x17), Porto. Pág. 137-138
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